Signos e seus ceticismo

30 de setembro de 2010

Quer dizer que é primavera? Que bom! Não entendia nada de estações do ano, signos do zodíaco, ciclos menstruais e cereais matinais. Pra mim ou era sol ou era chuva. Nada de meio termo, frio e neblina. Esse rémedio eu conheço é gasolina. Uísque + Tequila. Não tem como ser diferente. Ela vem me dizer que sou ariano. E ariano não serve. Não pra uma garota de Peixes. A partir do dia que nasci, ela diz que já sabe tudo que pode acontecer entre nós. Toda nossa história contada desde então. E afirma que não teremos um final feliz.

Bobgem. Ninguém pode escrever coisas assim a partir do nada. Da posição das estrelas num dia qualquer. Eu uso de todo um ceticismo cientifico pra dismistificar todo horoscopo. Ela pensa, pensa e diz. Típico de Ariano.  Tão contraditório você. Eu emudeço, calculo que aquela guerra está perdida. Não tenho mais armas contra as estrelas. Era hora de jogar o jogo dela.

Você é toda dedicação e amor, e eu sou o egoísta. Você gosta de querer consertar pessoas, eu estou quebrado. Talvez você queria, como diz aquela música do Coldplay, me consertar. Não adianta, filosofias e tentativas baratas de conquista não vão mudar o que dizem as estrelas, meu bem. Sejamos doces e objetivos. Eu sou todo paixão. Você é razão. Talvez a gente vire uma música do Wando. Poderia facilmente te levar flores todos os dias depois do trabalho. Fazer você conhecer as estrelas pessoalmente nas noites de frio. Aplacar essa sua conhecida carÊncia. Prometo não ser irônico e provocador, não te darei frustrações e sentimento de culpa. A culpa será sempre minha. Ou não.

Mas se você preferir, pra gente ficar junto, eu até mudo o dia do meu nascimento. Pronto. Agora meu aniversário será 30 de junho e serei de Cancer. Satisfeita?? Segundo os sites de combinação astral seremos o par perfeito. Eu já disse e repito novamente mais uma vez que por você eu faço tudo. Até mudar uma essência minha que nem sei se eu realmente tenho.

A única coisa realmente que me importou sobre signos foi na época de Cavaleiros do Zodíaco que o Mu de Aries não lutava, só consertava armaduras. Mas na Saga de Hades ele lutou e foi massa. Salve, Mu!

* O que o ariano diz depois do sexo: “Legal, vamos de novo!” *

Lados: Eu de um, você do outro.

28 de setembro de 2010

Que estranho ouvir “Me And You” depois de anos e anos. Deu uma vontade imensa de te ligar. Na verdade, vou ligar. Ainda bem que você não atendeu. Posso repetir aos quatro ventos que a nossa história ainda faz sentido. Não adianta você negar com forças e sua voz rouca. Sei que você não está aqui, está a quilometros de distância. Mas quero ficar contigo. Por isso te liguei, sabia?

Sou ainda a mesma garotinha que fala de amor pra quem quiser ouvir. Dizem que me exponho demais. MAs não tenho vergonha, medo ou qualquer coisa parecida. Eu sou assim, sincera, sentimental demais. Mas você é perfeito, apesar de ter todos os defeitos possíveis.

E eu sou apenas uma abstêmia, às vezes santa, provavelmente profana. Dramática até não poder mais. Um absurdo. Palavras suas. Acho que não combino com esse seu showzinho todo. Todas piadas sem graças que me esforço pra sorrir. Eu até brinco que tenho que usar luvas pra não pegar essa sua doença antimelancolica. Você é otimista demais. E não adiantou. Sou um pé no saco

Então procurei no meu baú de canções que dilaceram meus pensamentos e achei. “ME and You”. E toda vez que ouvi-la vou te ligar, quer você atenda ou não. Mesmo eu estando aqui. Do outro lado você ouvirá meu suspiro. Silêncio.

Pode até ser que quando a gente se encontrar de novo já não seja mais a mesma coisa. Não é regra. Mas eu queria tentar. Pelo menos mais uma vez. Essa cidade louca me deixa cada vez mais solitária. Estou longe de tudo e de todos. Mas o rádio sempre vem me lembrar que estou me afastando de todos, inclusive de você quando toca “Me And You”.

“All life I’ve dreamed for someone like you and in my dreams you came to me. I’ll never go away from you”
Na verdade, amor, eu te liguei só pra falar de alegria, arco-íris, chuva e sol.

Um Gump ao contrário…

28 de setembro de 2010

Inventar histórias é uma arte. Olhar nos olhos e imaginar toda uma vida é algo natural pra mim. Criar todo um mundo de pensamentos e ações que na verdade não parecem nem um pouco com a realidade. Viver num autismo constante. Também pode ser uma terapia pro trânsito caótico dessa cidadezinha. Desde que vim pra São Paulo estou tendo que andar de ônibus, metrô e afins. E demora. Como demora. Não gosto de ler em movimento, então a solução é olhar pras pessoas ao meu redor.

Aquele senhor de terno amarrotado, rosto cansado e olhos tristonhos provavelmente perdeu seu filho único num acidente de automovel, por isso desistiu de andar de carro. Só no metrô. Enfrenta problemas no casamento desde então porque a sua esposa o culpa por tudo. Além da dor da ausência ainda tem que aturar reclamações constantes. Passeia de metrô pra descontrair, esquecer. Aposto que o filho gostava do metrô. Não usa o acento preferencial porque não se acha velho, acha que não precisa.

A mulher de vestido vermelho não aguenta mais o tédio da rotina. Ir ao trabalho enche o saco. Tem um caso com o chefe, mas nem gosta dele. Queria uma paixão fulminante. Daquelas de parar o mundo que quero descer. Curte as noites de sábado com amigas, mas no domingo nem tira o pijama. Pinta as unhas de cores chamativas porque na escola era considerada um “menininho” e nenhum rapaz queria nada com ela.

Um casal na minha frente discutindo “Ensaio Sobre a Cegueira”. Ele não tira os olhos da boca dela que divaga mil teorias sobre o real motivo da cegueira coletiva. Dando várias explicações esdruxulas que não faziam sentido algum. Ele visivelmente não concordava, mas falava que sim. Fácil de verificar que ele era melhor amigo dela há muito tempo e sempre fora apaixonado, pena que não tinha coragem de falar. Ela o tratava como um igual. Provavelmente contava-lhe os detalhes picantes de seus amores e cada palavra era como uma faca no peito dele.

Por fim, encontro um cara de óculos olhando atentamente a cada um. Penso que deve estar fazendo o mesmo que eu. Criando histórias para cada um. Não me atrevo a criar uma pra ele. Vai que ele resolve criar uma pra mim. Tenho medo. Deixa eu mesmo criar a minha própria história.

Não aceito devoluções…

27 de setembro de 2010

Não me peça pra explicar nada que eu goste muito se você não quiser uma história detalhada do começo ao fim. Com doses de dramaticidade e pitadas de heroísmo posso lhe contar a diferença entre Senadores e Deputados Federais. Se você tiver mais um tempo posso descrever toda a estrutura do Legislativo. Não eu não sou assim. Sou de poucas palavras. Não gosto de filosofias baratas de fim de noite. Não falo mais que o necessário.

Gosto de polemizar. Criar dúvidas onde você era dona das certezas. Adoro inventar frios na barriga alheia. Montanha russa de pensamentos. Não sou de palavras bonitas, monologos interminaveis. Não sou do Direito. Não mais.

Mas posso fazer se assim vocÊ quiser. Posso ser o Fidel Castro e subir no palanque e expor tudo que penso por horas e horas e horas. Expandir o tédio além do alcance. Um mutante. Transmorfismo é o meu poder. Adequar-me em todos seus espaços. Ser teu companheiro numa visita do Presidente americano ou te acompanhar no morro pra comprar drogas. Posso fazer vários personagens. Até ser eu mesmo se quiser.

Se você preferir estar com esse cara estranho, que não penteia o cabelo, que é sempre do contra. A voz discordante. Escondido atrás de palavras escritas ou uma tela de computador. Com óculos de velho e olhar de criança. Tanto faz. Você tem em mim um cardápio de opções. E basta escolher o prato do dia.

Só lembre de ler as letrinhas em fonte 5 no final do menu. Efeitos colaterais. Você já não pode me cuspir de sua vida. Não aceito devoluções. E saiba que devo fazer mal. Afinal, no final do amor é sempre ruim. E o pra sempre, sempre acaba.

Já percebeu que não sei me vender, não é? Como diz o ditado, quem não me conhece que me compre. Você aceita o desafio? A sinceridade mórbida vem de brinde. Sempre.

Eu não vou mais sentir amor, no final sempre é ruim!

http://www.vagalume.com.br/iupi/antes-so.html#ixzz10hlecR7q

‘cause boys don’t cry…

26 de setembro de 2010

Eu até diria que estou arrependido se achasse que isso fizesse vocÊ mudar de idéia. Mas eu sei que dessa vez foi demais. Falei demais, machuquei demais.

Eu me desmancharia aos seus pés, mendigaria o seu perdão, imploraria a você. Mas eu sei que é tarde demais. E não há nada que eu possa fazer.

Julguei mal o seu limite. Fiz você ir longe demais te subestimei, não te dei valor. Pensei que você precisasse mais de mim. E agora você foi embora. Bem feito, diriam. Eu mereci.

Mas essa de meninos não choram é pura balela. Eu choro, fácil. E por muita coisa. Raiva, tristeza, felicidade, pena e por aí vai. E não tenho vergonha disso. Não tenho porque esconder as lágrimas. Eu preferia que você não as visse, mas não consigo.

Naquele dia, eu chorei. Chorei de uma forma diferente. Algo dóia. Algo que não podia remediar. Um buraco negro no meu peito. Soquei os travesseiros pensando que a raiva pudesse ser extravazada. Coitados. Queria mudar o foco da dor, chutar paredes quem sabe. Eu já tinha sido julgado pelo seu Tribunal do Júri de amigas. Culpado. Sem a chance de defesa, sem a chance de recurso.

Se eu pudesse me defender, talvez criasse um teatro cheio de declarações que convecesse os jurados de que sou inocente. Ou quem sabe reduzir a pena pra algumas horas sem nos falar. Não pude. Pena de morte. Nosso fim.

E então, anos depois você me liga pra dizer que está feliz. Com outro alguém. E está pensando em se casar. Invento que também estou apaixonado e conhecendo uma pessoa. Não se pode perder de muito a guerra. Mas o mais engraçado é que ela queria me ver. PRa quê? Uma despedida de solteira? Algo parecido com aquela cena especial de Diário de Uma Paixão? Sim, eu escreveria nossa história num caderno e todo dia daqui a 30 anos tentaria te fazer lembrar de mim, do nosso amor.

Agora não sei o que faço. Mas não tenho mais nada pra perder mesmo. O que eu tinha de importante ela já me roubou…chorar de novo pela mesma coisa me parece até uma idéia razoavel agora.

Espuma Vermelha

26 de setembro de 2010

De vez em quando baixo o filosofo e tento teorizar sobre coisas absurdas. O fantástico mundo das azeitonas suicidas. E o pior é que muita gente leva a séria meu autismo forjado. Dizem que sou louco. Eight days a week. Misturo Beatles com Coca-cola no café da manhã. Almoço The Who com batata-frita. Janto Silverchair com ketchup. Durmo com ela. Só com ela.

Ela tenta divagar sobre borboletas do Afeganistão. Então eu mostro que é importante competir, mas ficaria bem decepcionado se não ganhar. Damos risadas da nossa própria estupidez infantil. Acredito que a paixão é mais ou menos isso, ser estupido e rir de quase tudo. Levar a sério na medida correta. Ah! E sempre lembrar de dar descarga. Talvez não deixar toalha molhada em cima da cama. Fora isso é tudo divertido.

Naquela manhã de domingo eu via Fórmula 1 e ela relaxava sua beleza na banheira ouvindo uma banda nova que uma amiga de trabalho indicara. Eu e meu sorvete de Doce de Leite éramos os senhores da cama. Ela e seu Ipod eram capitães do banheiro. Cada um no seu pequeno reino dominical.Eu já cheio de Galvão-Burti-Reginaldo. Ela já entediada com The Killers-Franz Ferdinand-Strokes.

Invadi sem piedade o reino dela pra dizer que a amava. Ela se espantou com minha demonstração gratuita de afeição. Mais ainda quando entrei de pijama e tudo na sua câmara secreta. Seu louco. Louco por você, docinha.

– Acho que precisamos de uma banheira maior, ela retrucou ao ver o sangue da minha cabeça pintando as espumas de vermelho. (Maldito porta toalhas com ponta).

É sempre assim, quando eu ofereço carinho sem querer nada em troca, algo ruim acontece. O almoço matinal foi no hospital dando pontos na minha nuca. E ainda rasparam minha cabeça. Shit!

Love, love me do…

26 de setembro de 2010

Engraçado como ela sempre lembrava letras completas das músicas. Eu sempre a olhava incrédulo. Nessa tarde, lavando as louças do almoço ela cantava “If I Fell”. Já tinha visto essa cena várias vezes. Era como um filme da sessão da tarde. Mas o efeito foi hipnotizante. Do sofá eu a via e ouvia aquela voz doce suplicando por um amor sem dor. Tentei imaginar, vizualizar, contextualizar e outras ações inerentes, como era o nosso amor, sem dor. Um flashback passional. Na verdade, tá mais pra uma retrospectiva.

Lembro do primeiro beijo. Da primeira briga. Da primeira vez que andamos de mãos dadas pela praia. Do dia que quebrei meu braço. Do dia que ela desmaiou. De quando a pedi em casamento e ela disse não. De quando ela mudou pra minha casa. todo passo a passo.

Pensei como estava me sentindo bem. Como ela era a mulher perfeita. Como meu felizes para sempre funcionava. Se eu tivesse escrito a história do meu jeito não seria tão boa quanto era a realidade.

Num ímpeto incontrolável peguei o violão e sentado no banquinho da cozinha cantei Love Me Do. E a gente se amou, na bancada mesmo. Nessa hora entendi o que queriam dizer ao afirmar que se o mundo acabasse aquela hora seria feliz. Ela era tudo que eu sempre sonhei. Precisei. PRa sempre ao seu lado, a gente prometeu. E cá estamos tendo que lavar a cozinha porque derramamos extrato de tomate por todo o chão.

Twist and shout, baby.

I saw her standing there…

25 de setembro de 2010

Festinhas dançantes sempre foram um pesadelo pra mim. Nunca fui muito de dança. Ou ficava parecendo um robô com ferrugem nas articulações ou parecia uma caricatura bem mal feita do John Travolta. Era tudo muito exagerado. Então, no meu 3º ano o pessoal organizava muitas dessas festas regadas à alcool, música eletrônica e paixões adolescentes. Eu quase nunca me dava bem porque não sabia dançar. Mas eu ia mesmo pela cerveja grátis, pelo papo animado com a galera e, também porque nunca se sabe se aquele pode ser seu dia de sorte.

Naquele dia eu tinha uma desculpa e uma tática perfeita. Pela manhã tinha torcido o tornozelo no torneio interclasses do colégio. Pé enfaixado. Não precisaria ter que dançar e as curiosas sempre perguntam o que aconteceu. Acho que o instinto materno faz elas se aproximarem dos “necessitados”.

Eu sempre fui ruim de mentir. Contar histórias. Inventar um faz de conta pra garota se sentir uma princesa. Resumindo: sou péssimo de papo.

A noite estava perfeita. Eu lá sentado na bancada quase sempre sozinho vendo o povo se divertir. Até que olhei ela lá parada. Era ela. Só podia ser. Era irmã mais nova de um carinha da minha turma, estava deslocada com um copo daqueles drinks coloridos na mão. Levantei, mancado e com muita dor me aproximei. No caminho, um amigo mais solicito me deu uma cerveja nova. 40 segundos pra pensar em algo inteligente e engraçado pra falar.

Uma mentira, lógico.

Tava rolando um reggaezinho maneiro. Se eu pudesse dançaria com você a noite inteira e te faria ser a garota mais feliz daqui. Afinal, a mais bonita com certeza você é. Só precisa sorrir mais, seu sorriso é lindo. (Que idiota, falei o que não era pra ser dito, sabia que daria errado. Com esse clichê todo. Burro).

Ela sorriu. Disse que se chamava Adriana. Disse que bebia coquetel de frutas, mas não sabia quais. Disse que meu cabelo era engraçado. Que meu sorriso era torto. E que meus óculos eram de velho.

Conversamos um bom tempo. Contei mais histórias que Forrest Gump. Quase todas inventadas. Estava me sentindo o maior mentiroso da região. Ficamos juntos um bom tempo naquele ano. Minha lesão foi pior que o esperado, minhas mentiras foram dificeis de sustentar. As festinhas foram ficando mais hardcore.

Mas a maior mentira que ela me contou tinha apenas três palavras: Eu te amo. E pior, era verdade.

(Nessa época eu ainda fugia do amor. Só queria saber de sexo, drogas e rock’n roll. )

A unha e guerra unilateral.

24 de setembro de 2010

– Quebrei a unha. – diz ela mostrando pra mim o dedo indicador com uma irregularidade quase imperceptivel na unha. E faz aquela carinha de menina chorosa que me faz sentir pena e tesão. Quase uma lolita da minha idade. Seu jeito de garotinha entorpece os meus sentidos. Então respondo com um beijo paternal no dedo e vou subindo assanhado braço acima com um desvio de percurso básico em seus seios de mulher. Na escalada roço minha barba grossa em seu pescoço. Arranco algumas risadas, cócegas de amor. Então um beijo desesperado encerra a conversa silenciosa.

– Para, amor, você não vê que quebrei a unha! – ríspida mas com o bico ainda em sua boca ela me repele. Parece que seu reino encantado acabara de ser atacado por uma horda de orcs. E aparentemente eu tinha alguma culpa na invasão. Acho que foi porque eu não dera atenção devida aquela unha.

Odeio unhas grandes. Corto as minhas todos os dias, claro que é pra não alimentar minha mania compulsória de roer. Também não me importo se tal mulher tem unhas compridas e vermelhas ou se as têm no casco e pintadas de roxo. Unha não chega a ser nem acessório de uma dama. Perde pra brincos, pulseiras, lacinhos na sandália. Na verdade, unha está pra acessórios femininos como Plutão está para os planetas. Aliás, uma vez na 6ª série perdi pontos numa questão ao esquecer de colocar Plutão como planeta, será que consigo um recurso pra reaver esses pontos?

Ao tentar me esquivar de uma conversa mais séria levantei e fui em busca de algum alcool na geladeira. Ao voltar com a Stella em minhas mãos, a encontro com olhos em fogo e uma expressão demoniaca de choro ataca.

– Você nunca dá atenção aos meus problemas. Quando seu time perde eu tenho que ouvir horas e horas porque o técnico escalou fulano no lugar de Sicrano que o mundo inteiro sabe que é melhor. Resmunga a falta de sorte por aquela bola ter batido na trave. Agora quando minha unha quebra, QUANDO MINHA UNHA QUEBRA na vespera do casamento da minha melhor amiga você ignora e vai buscar uma cerveja.

E então descarrega todos os anos juntos. Tudo que sempre jorra nas brigas. Todo mesmo roteiro dos confrontos unilaterais abastecidos por monologos intermináveis. Eu a olhava quase vomitar palavra por palavra, mas o que eu pensava realmente era que a porcaria do casamento da amiga dela seria justo no dia do show daquela banda que nunca vem na minha cidade. Depois pensei em quem votar pra Deputado Estadual. Maldita cerveja quente.

Até que as lágrimas escorreram pelo rosto dela formando um caminho negro tão belo quanto os de um guepardo. Era chegada a hora de virar o jogo. Um abraço apertado, mil beijos, declarações sinceras e outras nem tanto. Serei pra sempre seu. Blá blá blá. Se quiser eu saio agora às 4 da manhã atrás de unhas pustiças, tônicos que fazem crescer instantaneamente, busco a mais competente manicure do mundo, se quiser compro luvas e um chapéu pra combinar.

Ela esboça um sorriso tímido. Redundante. (Venci mais uma). Se aconchega no meu peito e diz: – Fica comigo pra sempre. Promete? – prometo a eternidade e mais algum tempo.

Desculpa se fui grossa. É a TPM. Suspeitei desde o principio. Essa maldita sigla me persegue e além do mais é o melhor motivo usado pras mulheres pra explicar qualquer ato insano e impensado. Te amo. E adormeceu engolindo soluços do seu choro silencioso.

Então, pensei. Será que tem outra cerveja na geladeira ou aquela foi a última?

Já levou um tapa hoje?

23 de setembro de 2010

Aquele que nunca levou um tapa sincero não merece contar sua história pra ninguém. É uma vida sem sentido. Ninguém nunca foi amado o bastante se nunca levou um tapa. Aquele com um som estalado de novela das oito. No meio do salão. Por alguma coisa idiota que acabou de falar, fazer ou pensar. Mas tem que ser aquele com amor. Não pode ser aquele recebido depois de um avanço de linha com uma desconhecida. Tem que ser aquele conhecido e merecido.

Nunca ter sofrido da humilhação pública é como um pescador maranhense que nunca viu um boto. Só cumpre tabela. Está lá por estar, não pra vencer. Comer feijão com arroz é bom, sempre. Mas de vez em quando uma paella pode ser diferencial. Um mocotó de sentimentos embaraçados, tal qual o tapa.

Saber exatamente porque está apanhando. Caminhar pra reconciliação com as palavras decoradas que ela precisa ouvir. Cheio de lágrimas e arrependimento se transformar de culpado a vítima de uma injustiça que não pode ser feita. Condenação sumária a pena de morte. Irreversivel.

Ela descarregará todos os xingamentos que conhece. Alguns que você julgava como sendo incapaz dela conhecer. Você descobre uma nova face de sua mulher. A face ferida, em orgulho e preconceito. Mas verá como ela pode perdoar. E como reconciliações são doces. E quentes. Fogosas.

Sei também que existem aqueles tapas finais. Em que toda sua prosa pode ser jogada, suas melhores frases que estavam no seu caderno de situações extremas, nada disso terá efeito. Agora jaz. A dor no rosto será o menor dos males. O buraco no seu peito, esse sim dói. E não adianta apelar para as jogadas de segurança. O triunvirato: Flores, Chocolate e Jóias. Será perda de tempo e dinheiro. Ela não voltará.

O tapa tem um tempo pra curar. Efeito rápido. Quanto mais tempo passar pra discuti-lo, maior o seu efeito. A volta tem que ser impensada. Sem chances pra arrependimentos e segundos pensamentos. A dúvida está ao seu favor. Aproveite antes que ela calcifique e se torne uma certeza. Focalize que a certeza está contra você.

Não se desespere com um tapa. Você, certamente, o mereceu. Saiba como torná-lo um trunfo a seu favor. E não hesite em usá-lo mais a frente. (Não, você não entendeu. Não se pode em caso algum, bater em mulher, ao menos que ela peça). Use como argumento. Ao levar um tapa, você se torna o dono da relação. Aprenda isso e será feliz.