Vários quilômetros na sua hora

26 de dezembro de 2010

Três horas da manhã e todo o vento do mundo balançando sua franja preta. Pele branca e esmaltes vermelho-luxúria condizentes com sua mais adeqüada definição. Ombros desleixadamente jogados, cotovelos pra fora da janela do carro e o destino mais incerto que qualquer outro. Camisa branca desabotoada e maquiagem preta já derretida, sem resquícios do batom vermelho que a deixava parecida com personagem de cinema. Algum rock pesado que ela acompanhava de quando em vez a melodia com o balançar dos dedos no volante, principalmente nas curvas para aumentar a sensação de perigo. Era isso que ela buscava na madrugada, era isso que queria. Uísques, vodkas e pós não eram mais suficientes. Aventurava-se e sabia que tinha mais coragem que a maioria desses vagabundos baratos. Não sabia para onde ir e não queria encontrar aqueles que tanto jogavam na sua cara o que ela tornara-se. Sabia muito bem que no fundo continuava a mesma menina das bochechas roliças, de títulos acadêmicos que não a deixavam feliz verdadeiramente… Do que adiantavam os diplomas emoldurados na sala?! Talvez a maior vantagem fora meio mundo rodado atrás de pedras filosofais que ressuscitassem os que levaram uma vida tal qual ela leva agora. Há muito não acreditava em deuses e santos, mas pedia a quem quer que fosse que queria morrer antes de precisar de alguma espécie de tratamento médico que ela mesma não pudesse realizar. Talvez por esse mesmo medo nega-se a fumar: lembra da imagem do avô no caixão com doença de fumante, sendo que ele jamais fumou nenhum cigarro. Não, não agüentaria morrer tísica daquele jeito, sem o viço da juventude que ela se esforçava para manter. Inconscientemente procurava uma morte ali, naquelas madrugadas… Uma morte digna dos anais da história: “morre tragicamente Drª …, grande autoridade em cirurgia hepática do século XXI que antes dos 30 anos de idade revolucionou a Medicina moderna” ou “a Cirurgia Hepática está em luto pela perda de duas das mãos mais habilidosas que tivera” ou “33 anos de idade e um século de contribuições à Medicina: luto pela cirurgiã prodígio que conquistou o respeito das mais renomadas autoridades científicas”. Ela não queria isso, nem morrer podia em paz! Tudo o que fizera foi inventar a técnica cirúrgica mais óbvia que podiam ter pensado… Aliás, por que não pensaram nisso antes?! Desde então a cobrança de todos… E qualquer erro seria o fim. Nunca soube lidar muito bem com cobranças e tinha dificuldades com sua precocidade. Seus relacionamentos amorosos eram os que menos entendiam tudo aquilo… Qualquer pessoa com seus vinte-e-poucos-anos estaria bebendo despretensiosamente em algum bar, flertando com desconhecidos, indo para a cama com os melhores amigos! Mas ela não, ela era cobrada e seus tutores cobravam cada vez mais desde a publicação daquele artigo… Ela tinha que atingir o ápice. Atingiu. Foi aí que de um estrondo só o corredor do hospital ouviu seu berro e seus passos correndo, fugindo… Estava ali o que eles queriam, que agora a deixassem em paz! E dizem que até hoje aquele corredor vibra o eco daquele pedido de sossego. Tinha 30 anos e passou os últimos três rodando o mundo sem planos, apenas em busca de prazer. Hoje estava ali, às três horas da manhã em uma das maiores avenidas do Brasil, correndo, fugindo dos outros e de si. Nunca amou e que registrassem isso em sua biografia com todas as letras, sempre repetia isso aonde ia. E era mais uma forma de ferir qualquer um que fosse, mesmo que eles não se importassem… Depois das noites boemias, encostava a cabeça na parede do banheiro e chorava como a criança que nunca tinha deixado de ser, lembrava do desgosto da mãe em acompanhar tudo aquilo à distância, lembrava do olhar dele que há tantos anos não via, lembrava do olhar de quase todos eles… Podia esquecer os nomes, mas lembrava dos olhares. Tinha vontade de repetir o feito da adolescência, mas dessa vez queria repetir direito. Lágrimas misturadas com a água do chuveiro, olhos borrados e o café preto de sempre. Mas um dia, há muito tempo, previu que dali a cinco minutos seria o fim do que poderia ter sido e não foi, o auge daquela ópera burlesca, daquele drama. Dali a cinco minutos ela seria apenas mais uma matéria bruta sem crachá para os vermes, sem beijo de despedida, sem lágrimas ou afeto. Dali a cinco minutos ela era a beleza do desgosto poetizado, levando consigo os únicos rascunhos que tinha dos poemas de todos aqueles anos e agora, sim, poderiam dizer que ali havia sua essência: escreveu sua história e o ponto final não foi de nanquim, foi de sangue.

P.s.: na hora de sua morte, tocava na rádio a música que por muito tempo fora sua predileta, quando ela ainda importava-se com isso. Seu nome era “Impossible Germany”, a música que em tempos de garotice ela planejara tocar em seu casamento. Como em “Vestido de noiva”, a marcha nupcial virou marcha fúnebre e não adiantou renegar a Literatura, ela morreu Poeta.

Poderes e Preferências.

10 de setembro de 2010

eu poderia escrever um belo texto, mas preferi apenas dizer que te amo.
eu poderia escrever um longo poema, mas preferi escutar sua voz.
eu poderia inventar uma história de amor, mas preferi acalentar a saudade.

eu poderia fazer mil coisas, mas preferi me esconder no frio do meu quarto.

eu poderia, mas não vou.

Eu te esqueci

7 de setembro de 2010

Quando o beija-flor não gostar mais de flor, eu te esqueci.
Quando decifrarem o sorriso da Monalisa, eu te esqueci.
Quando Chico não fizer mais sentido, eu te esqueci.
No dia que não houver mais brisa, eu te esqueci.

Eu te esqueci.
Quando não houver mais dinheiro, valor ou ambição
Quando não houver mais um casal sorridente na praia
Quando seu nome não me trouxer paz, eu te esqueci.
Quando sua boca repetir o meu nome, eu te esqueci

Quando não sentir o seu perfume no meu quarto às quartas
Quando a lua não influenciar marés, lobos e cabelos.
Quando os dinossauros voltarem a vida
Aí sim, eu te esqueci.

No dia que a noite não vier, eu te esqueci.
Na noite que o dia não acabar, eu te esqueci.
Quando não puder respirar, eu te esqueci.

Quando o mar tiver cheiro de óculos escuros
Quando o escuro não meter mais medo
Quando um segredo for bem guardado
Eu te esqueci

Quando os poemas não emocionarem mais
Quando aves deixarem de ter penas
Quando problemas forem mais simples
Eu te esqueci

Eu te esqueci se você assim pensar
Se você assim quiser
Se você evaporar, eu te esqueci.

Eu te esqueci tantas vezes que não consigo mais.

Assim Como Você

2 de setembro de 2010

Não era sexta-feira, mas ele estava lá. Sorrindo. Bêbado. Gritando a todos que quisessem ouvir. Com a voz rouca, a mente louca e insaciavel. Berrava a plenos pulmões o nome dela, numa agonia que dava pena. Acreditava que aquilo a traria de volta.

Passava as noites assim. Quando não criava uma bela canção em sua guitarra. Já foi um grande amigo meu, já compomos canções que nunca serão gravadas. Agora eu via ele se derreter em corações. Tudo por causa da garota dos seus sonhos. Da sua vida. Nem mais as noites nos bares com strippers o animavam.

Naquela noite, resolvemos tocar alguma coisa interessante. E o resultado foi uma música “divertida”. Ele dizia
que apenas a música ainda trazia alegria. Saudade de reunir uma galera pra uma jam session. Alguém aí tá a fim?

Assim Como Você
(George Raposo)

Enquanto você pede
Só um pouco mais
De gelo em nossas vidas
Eu então te peço
Pra me deixar em paz
Com minhas feridas

Linda, loira e esnobe
Anda no seu carro esportE
Madrugada adentro
Diz que é um hobby
Brinca com a sorte
De um sentimento

Eu não te entendo
Não consigo ser
Assim como você
Assim como vocÊ

Tem o coração negro inviolável
Sinto lhe dizer, amor é inevitável

Se perde entre as ruas
Me perdi em suas pernas
Simples, fágreis, nuas
As lembranças sao eternas

Andando por aí
Destruiu meu coração
Basta só sorrir
E lá se vai minha razão

Como uma briga
Pela primeira vez
Como um menino
que comemora o talvez

Eu não te entendo
Nem pretendo ser
Assim como você
Assim como você

a última figurinha do meu álbum

24 de agosto de 2010

Há algum tempo eu já fui romantico. Procurando besteiras antigas que eu tinha escrito encontrei uma cartinha datada de 05/11/04 e dizia assim:

A Última Figurinha Do Meu Álbum!!!

E daí que ela seja maluca?
E daí que ela mude de cabelo todo mês?
E daí que ela goste de desenho japonês?
E daí que ela torça pro Corinthians
E daí que ela use aparelho?
E daí que ela adore se ver no espelho?
E daí que ela passa meia hora em cada vitrine?
E daí que ela sempre bate no meu óculos?
E daí que ela não tenha os meus olhos?
E daí que ela sempre fala demais?
E daí que ela mude o canal da televisão?
O que importa é o que ela faz ao meu coração.

Besteira, mas ela achou bonito na epoca.

ao dizer que te amava.

29 de julho de 2010

Onde deixei meu coração?
Nas suas palavras mordazes que me partiram o peito
Contando os meus defeitos a quem quisesse ouvir
Ou foi quando perdi o senso do ridiculo
Ao dizer que te amava.

Drama Mexicano

29 de julho de 2010

Tudo o que não quero dizer
É exatamente aquilo que você quer ouvir
É aí que a vida parece um filme
Um drama mexicano

só um sorriso.

29 de julho de 2010

Você apareceu na minha frente
Como um fantasma no porão
Ali parada, só sorridente
Destroçando o meu coração

Já Não Preciso de Remédio

6 de julho de 2010

Mês de Julho. Vou tentar cumprir a meta de dia sim, dia não escrever algo pra ela. Tomara que eu consiga e tomara que ela goste. Este poema é só pra você. Pode ficar.

Já Não Preciso De Remédio
(George Raposo)

Eu me sinto um idiota quando falo com você
Você sorri das minhas idéias mesmo sem as entender
Eu me sinto tão feliz quando ouço sua voz
Parece um vírus que me consome fácil e veloz

Já não preciso de remédio pra curar minhas feridas
Só preciso de um beijo e de um bote salva-vidas

Eu me sinto um bobo quando olhos nos seus olhos
Vejo o brilho que exala a imagem do meu rosto
Eu me sinto tão normal quando digo minhas besteiras
Falando ao telefone atravessando noite inteira

Já não preciso de aviso pra saber o perigo que posso correr
Só preciso de um toque ao meu ouvido para eu saber

Eu me sinto um louco tentando te convencer
Que a vida é tão simples quanto eu e você
Eu me sinto tão triste quando vejo você chorar
Parece um tiro que entra no meu peito pronto pra me matar

Já não preciso saber que o mundo não gira ao meu redor
Preciso de um arco-íris pra combinar com meu lápis de cor

Eu me sinto um idiota quando falo por engano
E vai sorrir da minha cara quando eu dizer ‘te amo’

Você é tudo que sonhei

1 de julho de 2010

De repente, você abre a porta do seu quarto escuro. Onde estava preso remoendo as suas mágoas, cutucando velhas feridas. E encontra a luz, um ponto de fuga. Um sorriso. Assim que me sinto, agora. Como um poema.

Você é tudo que sonhei
(George Raposo)

Eu cheguei a acreditar que não existia amor
Mas quando vi o seu olhar, tudo mudou
No escuro dos seus olhos perdi minha razão
Joguei palavras foras, te dei meu coração

Você é tudo que sonhei
A garota mais bonita, meu futuro e presente
Você é tudo que pensei
A história contada de um jeito diferente

Aprendi que tudo pode acontecer
Uma segunda chance, eu e você
Todo jogo tem um segundo tempo
E talvez haja uma chance pra nós dois

Estou com você e não quero estar em outro lugar
Apago a luz, fecho os olhos e com você posso sonhar

Entre a porta aberta e o balançar de seus cabelos
O vento seco no meu rosto
E o gosto de sal me lembra você
Entre a palavra certa e um olhar para o espelho
O vento muda o seu gosto
E é seu rosto que nunca vou esquecer