A Porta Vermelha

22 de abril de 2010

A vida é cheia de surpresas. Isso já é senso comum. Mas é incrível como ultimamente ela vem me pregando peças. Eu tinha mil teorias sobre a vida. Sem nenhum embasamento.

A que eu mais acreditei durante a vida é que não tem jeito. As escolhas que fazemos são sempre iguais. Não adianta pensar em voltar no tempo, se voltarmos faremos tudo igual.

Fui criticado por todos ao expor minha teoria, e então deixei a guardada. Resolvi expô-la agora. Apesar de saber que não serei ‘seguido’ por ninguém.

Não é que eu acredite em destino, mas é algo muito parecido. Acho que a vida, as circunstâncias, nos guiam pra um caminho único.

Rebateram-me dizendo que sim, podemos sair desse trilho traçado pra gente. Que quando fazemos algo estupido, totalmente sem sentido, arriscado mesmo é quando estamos pisando fora do trilho. Eu respondo dizendo que essas ocasiões são quando o trilho faz aquela curva fechada, não saímos do trilho. Só o trilho que mudou de direção.

A vida não é um video-game que se a gente encontra 3 portas pra entrar: Verde, Vermelha e Amarela. A gente pode ir em uma e depois voltar e escolher outra e depois outra.

Na vida, temos que entrar na escolhida, normalmente a vermelha (não sei por que) e andar, andar até encontrarmos novamente outras 3 portas. E dessa vez podemos mudar a cor da escolha.

Ma se “resetassemos” a vida, sempre escolheríamos a porta vermelha. SEMPRE.

Dizem que penso assim pra dar menos importância as decisões tomadas ao longo da vida. Talvez estejam certos.

Claro que concordo que somos responsáveis pelas decisões que tomamos ao longo da vida, e pode até ser que as alternativas realmente sejam alternativas. Mas a dúvida é o preço da pureza e é inútil ter certeza?

Acredito que criei todo esse teorema pra não ter arrependimentos. E assim pautei a minha vida até agora. No regrets. Mas isso não impede de jogar tudo pro alto e mudar a direção.

Mas sempre escolheriamos a porta vermelha!

(Se bem que tem um filme clássico, Atrás da Porta Verde)

Carta à um amor passado

9 de abril de 2010

CARTA A UM AMOR ANTIGO, UMA VIDA PASSADA

Oi Amor,

Acredito que não lembras mais de mim. Já estive em sua vida, em várias vidas posso dizer. Você diz se lembrar muito bem das suas vidas passadas, mas não lembras de mim. Logo, eu que sempre estive ao teu lado, sempre. Sei que parece invenção, mas não tem como fugir, nós estamos ligados eternamente por laços mais fortes do que eu e você.  Eu lembro muito bem das últimas vezes em que estivemos juntos:

Lembra da época dos grandes faraós? Eu era poderoso. Fui um dos conselheiros de Tutankhamon, na verdade fui um dos poucos que o defendia e sabia que ele seria perseguido, mas isso não vem ao caso. Você era criada da filha do General. Que, por acaso, me odiava e queria me matar de qualquer jeito.  Você amava sua amiga, e me amava. Talvez não se lembre de nada disso. Eu estava lá. E pensamos em fugir, tentamos fugir, mas fomos traídos. Não pela sua melhor amiga, mas pela esperteza do General. E fomos perseguidos e mortos. Simples assim.

amuleto da sorte

As lembranças não são muitas, pois já faz muito tempo e são muitas lembranças juntas e sobrepostas. Você era a mais linda e todo mundo a queria. Até o General. Só que você era zangada, briguenta e preferia morrer a se deitar com ele. Eu era apenas um conselheiro, rico mas sem poder e jovem. Tentei casar com você, tentei, juro que tentei. Eu era muito bom com armas, mas eles eram muitos e bem mais treinados. Não consegui lhe salvar. A nossa morte em si, não me lembro. Só lembro que dói.

Eu entendo esse seu medo de água, eu estava lá. Na época eu não entendia como uma filha de pescador poderia ter tanto medo e não saber nadar. Você sempre dizia que o mar era mau. E naquela nossa primeira viagem pra buscar os preparativos pro casamento do seu irmão com sua melhor amiga naufragamos. E eu, criado no mar a vida toda, não pude salva-la. Não pude nem me salvar. Até hoje, eu lembro dos seus cabelos vermelhos sendo levados mar adentro enquanto eu não conseguia me mexer por causa da água congelada da nossa Noruega. Foi a minha segunda falha.

E quando eu era um jovem cavaleiro que combatia com Arthur na Inglaterra nos idos de 500dc? Você se lembra? Claro que lembra, você era a mais linda filha do Rei da Escócia. Foste importante um dia, tá vendo. Novamente, seu amor fez você fugir com a gente. Sim, a gente. Sua irmã mais velha se apaixonou pelo Lancelot (claro, todas se apaixonavam por ele, aquele metido) e você quis ir junto sempre teimosa e zangada. Fui escolhido a te proteger de todos. E não tinha como não me apaixonar. Dessa vez ficamos muito tempo juntos. Tivemos 3 filhos, todos homens e tudo mais. Foi talvez, a nossa melhor época juntos.

como eu lembro de você...

Todos aqueles fins de tarde olhando o pôr do sol, você tentando aprender a usar um arco, uma espada e um machado. Você sempre quis saber de tudo, de como fazer. Adorava como você se encaixava no meu peito pra dormir, como se escondia em mim quando estava com medo. Como me deixou escolher o nome dos meninos (Até hoje não sei como consegui essa façanha).

Mas aí veio a guerra e invadiram nosso reino. O seu pai matou você e sua irmã e todos os meninos. Eu não estava lá. Chorei todos os dias que me restaram, matei todos escoceses que encontrei. Nunca tive paz. Até hoje me arrependo de ter ido ao reino mais próximo comprar aquele tecido. Mas eu não tinha escolha, você sabe como você é. Não consegui te salvar pela 3ª vez.

Em 1376, quando você foi perseguida pela Igreja Católica por exercer bruxaria e caçada até o dia em que lhe queimaram na fogueira. Eu estava lá. E dei minha vida por você, sem necessidade, diga-se de passagem. Gastei toda minha fortuna, eu perdi todas as minhas terras, minha família foi excomungada por gerações e gerações. Tudo por um amor.

Nunca concordei com essas suas coisas, essa “bruxaria”, mas sempre defendi o seu direito de fazer o que quisesse. E você me amava. Não como eu te amei, não como te amo. Eu fiz você sofrer, como você me fizeste, por essa insistência, por querer ser sempre melhor. Mas eu nunca te abandonei, eu estava lá. Mas você preferia morrer a trair sua amiga, essa é uma atitude louvável. E preferi morrer a ver a minha amada morrer. Morremos juntos.

Enquanto você virava cinzas, ao seu lado eu era enforcado. Mas lembro de ter visto tudo, até hoje sonho com seus gritos, sinto o cheiro de fumaça. E parte o coração. Não bastou eu dizer pra você se esconder, fugir, sumir do mapa. Você é teimosa. Sempre foi. Essa extrema lealdade às amizades, ainda vai te matar como matou das outras vezes. E novamente estarei por perto, observando sem poder fazer nada. Na verdade, minha missão sempre foi te salvar. E eu já falhei 4x e não repetirei essa falha.

Na verdade, entendo como é difícil confiar que lhe salvarei. Depois de tantas falhas, talvez o nosso destino seja esse mesmo. Às vezes me sinto como naquele filme “Efeito Borboleta” que não adianta mudar tudo, tudo vai dar errado de qualquer jeito. Talvez o certo seja deixar a gente seguir caminhos diferentes mesmo. Melhor assim. E todo sofrimento que passamos juntos fique só na lembrança e cicatrizes dos nossos corações.

P.s. Até hoje sinto medo do fogo, não gosto de desertos e te deixar sozinha me traz calafrios. Mas meu dever é te proteger, estarei com você onde estiver.

Atenciosamente,

Eu